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Suicídio – É preciso dialogar com os adolescentes
Recentemente meu filho, prestes a completar 14 anos, sendo ainda um adolescente, disse-me que gostaria de assistir a primeira e segunda temporadas da série ‘13 Reasons Why’ uma produção da Netflix baseada no livro de Jay Asher, publicado no Brasil como ‘Os 13 Porquês’.
A série aborda o cotidiano escolar de adolescentes numa pequena cidade norte-americana, ressaltando a trama da personagem Hannah Baker, 17 anos, que comete suicídio, após sofrer frequentes agressões físicas e psicológicas por seus colegas. Temas como: bulling, assédio e abuso sexual, bebidas, drogas, relacionamentos homoafetivos e violação de privacidade também aparecem nos episódios.
Confesso que meu primeiro desejo foi proibir, evitar e proteger para que meu filho não tivesse acesso aos conteúdos ali apresentados, mas ao questioná-lo sobre seu interesse, justificou que era um dos assuntos comentados no meio de seu círculo social.
Diante de tal realidade e com receio que ele pudesse ver a série sozinho, propus que assistíssemos juntos de forma que eu conhecesse, compreendesse e conversássemos sobre como a temática foi abordada.
Sem dúvida, os sentimentos foram de angústia, tristeza e preocupação perante as cenas de violência e preconceito expostas no enredo da trama, mas com a real percepção da necessidade e importância de estarmos perto dialogando sobre os conteúdos ali expostos, principalmente abordando o tema suicídio, que segundo a OMS [Organização Mundial da Saúde], está entre as principais causas de morte entre os adolescentes.
Especialistas da Saúde Mental expuseram muitas críticas sobre a série, inclusive após os 13 episódios da primeira temporada. Há um documentário alertando sobre os perigos e impactos psicológicos dos temas retratados e um link disponível no qual jovens que enfrentam problemas semelhantes possam buscar ajuda.
Vale destacar que no Brasil, temos o CVV [Centro de Valorização da Vida] que atende pelo telefone 188 ou pelo site http://www.cvv.org.br – um serviço voluntário e gratuito de apoio emocional as pessoas que precisam.
A psiquiatra Carmita Abdo [2017] destaca numa de suas entrevistas que não se trata de uma opinião pessoal, mas de compreender que pesquisas ressaltam que a veiculação ou divulgação de um suicídio pode inspirar pessoas que já pensam no assunto.
Desta forma, a série, sem essa pretensão, pode servir de inspiração para indivíduos que sofrem algum distúrbio psíquico mais intenso ou possuem um distúrbio mental. Para a psiquiatra uma saída para a ficção seria falar sobre o suicídio como algo possível a ser combatido, apontando as diferentes possibilidades de ajuda.
Sim, os episódios trazem temas sensíveis, polêmicos e preocupantes, que necessitam ser abordados com cuidado, porém, considero que não podemos negar que este tipo de produto de entretenimento está presente, cada vez mais, na vida de nossos adolescentes e como pais ou profissionais precisamos estar atentos, juntos e dispostos a conversarmos sobre esses assuntos ainda considerados tabus.
É necessário abrir possibilidades de diálogos, de escuta… para que nossos jovens possam falar de suas angústias, medos, sofrimentos, alegrias e temas como o suicídio.
Sabemos que a adolescência é uma fase de ressignificação da identidade, e nela, os adolescentes buscam uma nova maneira de ser, se comportar e estar no mundo. São considerados impulsivos, demonstram onipotência, tem fome de espaço e liberdade, mas vivem cercados de incertezas e dúvidas.
Também sabemos que é comum nessa fase os filhos nos desafiarem em relação a nossa maneira de pensar e de exercer a autoridade, de forma que nos indagamos de como podemos protegê-los sem sufocá-los, como compreendê-los e apoiá-los?
Não temos uma receita pronta, mas a certeza de que sua personalidade se desenvolve por meio das experiências com aqueles que são mais próximos, assim como, quando crianças precisam de segurança, amor, atenção, limites… na adolescência não é diferente. Assim, pais, educadores e profissionais precisam estar atentos, juntos com nossos jovens, dando espaços para que possam falar, se sentirem ouvidos, crescerem e se tornarem autônomos, assegurando-os que podem contar com uma rede de apoio e afeto.
Encerro com a certeza que os temas expostos na série ‘Os 13 Porquês’ são extremamente sérios e cada um deles seria assunto para um artigo específico e que devemos falar sobre temas tabus, mas sempre com responsabilidade, disposição e preparo para o acolhimento.
Meu objetivo, neste artigo, foi ressaltar a frase deixada no último episódio pelo personagem Clay Jensen, representando o verdadeiro vínculo de amizade e paixão de Hannah Baker, quando o mesmo se dirige ao diretor da escola e ressalta: “Temos que melhorar a maneira com que tratamos uns aos outros e olhamos uns pelos outros…de alguma forma temos que melhorar!
Adriana Pereira Rosa Silva – Psicóloga Clínica, terapeuta infantil e familiar. É pós-graduada Psicopedagogia [Puccamp] e em Terapia Familiar e de Casal [Puc/SP]. Ministra palestras e cursos para pais e educadores.